Hoje, por volta das 07h15min, uma família de golfinhos saiu para brincar nas ondas de Governador Celso Ramos. Nadavam num mar azul cuja água espelhava o verde exuberante que deslinda há milênios aquelas encostas. Uma brisa contrária borrifava de maresia o olfato dos golfinhos. O ouriço amarelo boiava no espaço com seus espinhos luminosos despertando as cores do planeta.
Quando mergulharam na BR 101, a temperatura ainda era baixa, perto dos 13°. Suas nadadeiras de duas rodas giravam a 20 km/h. A velocidade subiu nas proximidades de Biguaçu, quando Sandro, golfinho empolgado, finalmente aqueceu e passou a puxar o grupo. Nadando na casa dos 30 km/h, essas criaturas marítimas se aproximaram velozmente das praias de Governador Celso Ramos. Assim que deixaram a BR nadaram à direita, saltando felizes sobre as ondas da Caieira do Norte. Daí seguiram contemplando a paisagem da Praia do Antenor, passando em seguida pela histórica Ilha de Anhatomirim. À medida que as “ondas cresciam” era um tal de “arrumar o banco”, “afastar o cabo do câmbio dos raios”, “bater umas fotos”, “curtir o visual”, “beber água”, “ingerir gel energético” e “comer barra de cereal”, que os golfinhos começaram a afundar lentamente.
Num mergulho do alto de um dos muitos tsunamis daquela região, Jairo, golfinho sorridente, se espalhou demais na onda e quase teve sua barbatana arranhada pelas pontas cortantes dos corais. O susto foi grande, mas logo a família retomou a alegria, deslumbrada pela magnífica visão da Baía dos Golfinhos. No cais dessa baía um grupo de turistas lotava uma escuna imponente que singrava o mar, num alvoroço de vida e gaivotas.
Quando a barriga roncou, os sete golfinhos acionaram seus radares e rastrearam uma padaria de delícias na Fazenda da Armação. Ali, Izoel, golfinho que completava 45 anos de vida marinha, soprou suas velinhas. Como nessa idade bolo com Coca-Cola diz muito pouco, toda a família nadou para o restaurante do Fedo, pertinho dali. Uma simpática senhora nos serviu três cervejas, que bebemos com muito gosto. Rinaldo, golfinho mestre e sábio, propôs que toda a família seguisse uma embarcação até a Praia de Jurerê, em Florianópolis. Isso só não aconteceu porque todos acharam o preço da sardinha, moeda dos golfinhos, muito salgado. A opção mais sensata era voltar às custas das próprias nadadeiras. E assim fizeram.
Mar, misterioso mar! Um tsunami triplo ameaçou lançar os golfinhos no cemitério de baleias. Mas, com as graças de Iemanjá, toda família rebolou até a crista daquela serra espumante sem maiores problemas. O perigo era a descida. João, golfinho radical, deu uma rabanada e afundou veloz, seguido por Simara, a golfinho namorada, e o golfinho Prof., de nadadeira cruel! Estimulados com a coragem dos três, Izoel, Sandro, Rinaldo e Jairo submergiram logo em seguida. De repente, a correnteza marítima formou uma curva fechada à esquerda, o golfinho João rebolou, desacelerando perigosamente suas nadadeiras. Simara, a golfinho namorada, precisou de grande habilidade para não se envolver no acidente, nadando por dentro, num equilíbrio gracioso. Acelerando mais do que um tubarão excitado, o golfinho aniversariante Izoel não conseguiu evitar a curva e rolou alguns metros no fundo do oceano.
Depois de descerem o tsunami juntos, o ciclocomputador registrava a marca dos três primeiros: 81,1 km/h!!! João, Simara e Prof estavam comemorando o recorde quando viram um golfinho à milanesa chegando. Era Izoel completamente coberto de lodo do fundo do mar e com uma rabiola de alga que lhe deixou com ares de arraia gigante. Com a nadadeira traseira torta, Izoel não desanimou e seguiu viagem acompanhando o grupo. Aproveitando a correnteza a favor, os golfinhos João e Sandro se divertiam à frente dos demais, nadando a 49 km/h. O golfinho Jairo guardou energia para a volta e seguia veloz perseguindo os mais adiantados. Pararam apenas duas vezes para reagrupar a família, que chegou unida na peixaria Ciclo Vil, numa felicidade aquática.
Não foi a média de 21,7 km/h que deixou os golfinhos contentes. A felicidade deles foi confirmar que a vida é esse imenso oceano de aventuras. Poder dividir as águas na companhia de grandes amigos é um mergulho divino! Que a onda de nossa amizade possa quebrar sempre no infinito do mar azul.
Prof. Charles.
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