quarta-feira, 5 de maio de 2010

A mais bela das terças


Mestre Rinaldo dá seu grito: “Vambooooora!!!” E uma mancha laranja é pichada nas esquinas do mundo! Nossa camisa cintila como uma chama a nos lembrar que há várias maneiras de seguir o caminho da luz. Nós, por exemplo, seguimos de bicicleta. Lajotas, lombadas, buracos, bueiros, canteiros, meio fio e lá vai a fieira de ciclistas se desenrolando pela estrada afora...

Primeiro trecho

João imprime um ritmo médio desde o começo. Atrás dele um curto-circuito de 22 vaga-lumes deixa um rastro de faíscas vermelhas. A jaqueta branca que as meninas vestem lembram asas de anjos. Aninha, Karolzinha, Raquelzinha, Simarinha e Terezinha, cinco angelicais criaturas. Protegidos pelo quinteto divino e acompanhados pela sinfonia dos grilos do meu pedal, seguimos às margens da 101, em direção a Biguaçu, numa delícia de sobe, desce e desaparece.

A primeira parada acontece no posto de gasolina que dá acesso a Antônio Carlos. Um a um os insetos vão chegando. Contam-se lanternas, vendem-se sonhos, trocam-se sorrisos. Nossa amizade vai alheia ao comércio do mundo.

Segundo trecho

No paralelepípedo os neurônios estouram que nem pipoca. E pode me passar o guaraná, porque Ricardo Pit Stop está com o pneu furado. Durante a troca um pinscher assustado vem farejar o acontecimento. O animalzinho mais parece um cervo frágil com pernas de graveto e olhos esbugalhados. E quando ele passa entre as pernas do Ricardo, penso em Ideiafix, o cãozinho de estimação do Obelix. Se o Ricardo estivesse só, decerto que usaria o pinscher como fita antifuro. Eu batizei o pequeno cão de “Gigante” para dar mais coragem ao pobre camundongo fantasiado de cachorro.

A roda está pronta. Gigante caminha em direção a Raquel e some. O trote do paralelepípedo vai se transformando aos poucos na marcha elegante do asfalto. Nosso pangaré crioulo toma ares de um imponente camelo. Porém, antes de entrar no deserto é preciso que nos abasteçamos de água. Enquanto nos hidratamos, um simpático gato branco pinta a noite, ávido de companhia. Ao encher minhas caramanholas o bichano ronrona e se enrosca em meus pés, que depois de um pedal cheiram a rato podre. De súbito, o gato branco cruzou a estrada em direção a Raquel e sumiu como Gigante, sem deixar rastros.

Gênios têm parafusos a mais, ciclistas têm raios a menos. E os loucos de Antônio Carlos têm a Barra Forte para voar... Cantamos parabéns ao rapaz, pois hoje ele está fazendo 21 anos. Notamos que aquele cérebro gira livre, sem pedivela para impulsionar, nem coroa para consagrar o reino em que vive. Sem bolo para comemorar, conduzimos nossos camelos ao deserto.

Terceiro trecho

Estamos parados sobre uma pequena ponte ouvindo as provocações zombeteiras de João. Ele diz que agora o bicho vai pegar, que é sangue no "zóio" e faca nos dentes! Tá liberada a socadeira!!!

Os camelos atacam a escuridão com saltos audaciosos. Poeira e neblina embaçam nossa visão. É preciso instinto para caçar a liberdade, experiência para não provocar a ira dos buracos e coragem de poeta para cantar a noite: “Pode seguir a tua estrela, o teu brinquedo de star, fantasiando em segredo o ponto aonde quer chegar!” Percebo no rosto de meus amigos que cada um é o poeta de si: “Meu amor, o nosso amor estava escrito nas estrelas, tava, sim!” Sinto que todos guardarão a poesia simples desse instante eterno, porque ouviram os astros: “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto, que, para ouvi-las, muita vez desperto e abro as janelas, pálido de espanto!”

Quarto trecho

Asfalto, velocidade. Jair, João, Alexandre, Elyandro, Simara, Aninha, Castilho, Izoel, George e eu puxamos o grupo. João pede que eu olhe para trás e veja o magnífico colar de brilhante que se pendura no pescoço das curvas. Como é lindo o espetáculo dos faróis! Meu coração é a lua cheia delirando sobre o cortejo pirilâmpico das bicicletas. Lágrimas infantis escapam de meus olhos e vão brincar com seus triciclos prateados no quintal da minha pele. Choro de encantamento! Choro de ternura! Choro por dentro e por fora! Choro porque a delicadeza do momento desenha os braços de uma saudade antiga! Choro porque me entrego à vida!

O Pedal Continente não é uma ilha. Para ingressar no grupo basta espremer a laranja do desejo diante do espelho e falar à imagem amargurada: “Meu limão, a vida não é só vitamina C, há todo movimento do complexo B: boca, beijo, baile, braile não é pra você!” Não fique só no tato, tente! Se, por um lado, nosso grupo aumenta o número de atletas, por outro, diminui atritos do dia a dia. “Leve é o pássaro: e a sua sombra voante, mais leve. E a cascata aérea de sua garganta, mais leve...”

No sprint final desse trecho Jair se consagra o príncipe do asfalto. Dono de uma pedalada redonda e de uma passada forte, brinca com todos nós. Meu amigo Alexandre esbanja elegância no estilo descontraído de girar os pedais. Subindo, descendo ou pedalando nas retas ele se mantém relaxado. À frente, Elyandro e João são duas carrancas vikings espantando os perigos da noite. Trovão, tempestade, raio, furacão, nada é capaz de detê-los.

Em vários pontos desse trecho pedalamos acima de 40 km/h, por isso, aqui em Três Riachos, sou um rio de suor. Mergulho meus pés no chão enquanto espero pelos demais. A galera tocou forte e em menos de um minuto já está reunida para um gole d’água, um dedo de prosa e um mundo de sorriso. A satisfação é geral! O pedal está fantástico!!! Todos vibram!!! Sinto a necessidade de cumprimentar um a um pelo excelente desempenho do grupo. E assim o faço.

Último trecho

Ricardo e Castilho surpreendem pela disposição e evolução no pedal. Estão andando muito! Às margens da 101 eles parecem voar. Em plena subida, Ricardo fica em pé na bicicleta e me ultrapassa com fôlego de montanhista. Castilho adquire ares de menino e não permite minha fuga. Eu me acomodo atrás das rodas de Elyandro, Tereza, Simara e João.

Na segunda parada desse trecho sentimos falta de um integrante, que, soubemos depois, foi acometido por fortes câimbras e estava a espera de resgate. “Se não aguenta, por que veio, nego velho?!” Acaso desconheces o chicote do Petry? Banana na veia, rapaz! Vem na roda da laranja, porque quem fica pra trás vira lenda!

De repente Raquel sente uma tontura seguida de fome. Começo a forçar o pescoço dela pra baixo, mas um colega sugere que eu a pegue pelas pernas e a vire de ponta cabeça. Preocupado, Elyandro pergunta se alguém tem sal para fazer a pressão da Raquel subir. Mas a mulher está faminta e tira dos bolsos o kit gula: um pacote de barra de cereal, uma caixa de Bis, um saco de granola, uma lata de pêssego, 200g de castanha e 2 quibes de carne de soja. Suspeito que ao chegar em casa ela tenha preparado um sanduíche com o pinscher antifuro e posto pra assar o bichano desaparecido!

Agora que Raquel acabou de jantar estamos indo de volta pra casa. Dez minutos de quebra pra cá, quebra pra lá e entramos no Kobrasol. O passeio termina. Alguns integrantes desejam rachar uma pizza, mas esperam Raquel ir embora, temerosos de outra crise de tontura...

Foi o passeio mais espetacular do grupo! Ritmo médio com trechos liberados para sprints. Alegria, aventura, suspense, emoção e a Via Láctea salpicando poesia! Demais! Agradeço a todos que me ajudaram ver a beleza sideral desse outono de sonhos!

Um forte abraço a todos!

Prof. Charles.

11 comentários:

Rinaldo Rocha disse...

Galera !

Tem coisas que o credicard não paga , ontem ver o nosso amigo Ricardão encostar no João a 29km e dizer para ele vir na roda não tem preço , hehehehehe , coisa linda ver o Ricardão me abandonando no fundão do grupo . O pedal de ontem foi um pedal com poucas paradas é o ritmo foi show de bola , a turma estava euforica com a pequena correria que aprontamos , fico contente ao final ouvir que todos ficaram satisfeitos com o pedal.

Tem neginho treinando escondido heimmmmm , segundo pedal é acompanhar na meiuca e sobrando no final do pedal , seu Castilho deu um banho , parabéns .

Valeu raça o pedal foi show de bola.

Rinaldo.

João Paulo disse...

o seu castilho ta matando a cobra e escondendo o pau...hahahahahaahahah

Elyandro Modro disse...

Realmente pedal show de bola, sem comentários.
Pena que tava muito forte pra raça (né Luciano, hahahahaha)

Abs galera e até a próxima

Luciano Gomes disse...

Então..............
Como eu não comi nada fiquei fraco/tonto e não conseguia mais pedalar...... cheguei me arrastando.........
mas foi altos pedal !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Vou fazer que nem o Sr.Castilho, vou começar a treinar escondido......hehehehe

Fe Rocha disse...

Luciano
por essa ninguém esperava,logo vc?????
Acho melhor treinar escondido
Bjs

Wilian Belmonte disse...

Õoo coisa linda hein, Ricardão cada vez se superando mais e mais....

Abraço,
Wilian.
http://picasaweb.google.com/pedalcontinente

sonia costa disse...

Bom dia!
Apesar de ainda não ter tido a oportunidade de pedalar com vcs recebo os e-mail do grupo.
Estarei em ferias de 12 de maio a 12 de junho por isso solicito não me enviarem e-mails, senao a caixa transborda...k
Quanto ao pedal sei que não vai faltar oportunidade.
Um grande abraço e obrigada
Sonia!

Izoel disse...

Laranjinhas do Continente,

Este pedal foi, assim, como outros memorável... Tudo isso é fruto de companheirismo, amizade enfim vínculos de afeto construídos com esta convivência ímpar. Pedalar com esta galera realmente vicia. O prazer supera a prequiça e renova energias pra superar outras batalhas individuais. O depoimento generalizado confirma, que ficar em casa estressado não resolve, vamos pedalar suar muito e por pra fora as impurezas nocivas.
Parabéns as meninas, Aninha vc com medo de não acompanhar o grupo acabou puxando grande parte do percurso, Teresa e Karol... Nem se fala puxando o grupo sempre... vcs estão pedalando muito...Ricardão desafiando o João quem diria... Como diz o Rinaldo isso não tem preço. Pra fechar com chave de ouro um relato do Charles.
Parabéns galera, que venham novos desafios...

Abraços!

Petry disse...

Pessoal


Deste dia guardo a lembrança de quão rápido foi o atendimento ao pneu furado do Ricardo.
Do pessoal que ficou atento ao trânsito, depois de eu ter sido taum chato.(desculpae!!!)
Da bela e agradável noite que até então ameaçava chuva.(quem é de açúcar e foi jogar vôlei nem sabe o que perdeu)
Dos novos colegas que espero terem apreciado o passeio com este grupo de ciclistas amadores(amadores ciclistas??).

Da disposição dos colegas em aproveitar a noite, de forma entusiasmada.(ahhh muleque!!)
Do frio gostoso, e dos faróis das bicicletas em fila indiana cortando a neblina em Biguaçu (farol bom: melhor investimento que eu fiz).
Do Mestre Rinaldo que tava possuído!!!, queria carregar nas costas um colega até o Kobrasol. (O cara tava possuído!!!)
Do esforço que as meninas resfriadas ou famintas demonstraram ao pedalar por tanto tempo. (imagino a força do pedal de quinta qdo elas estiverem 100%)
Do esforço que as meninas resfriadas ou famintas demonstraram ao me aturar na puxada. (desculpae!!!)
Do número reduzido de paradas.(na ida!!)
Da caça a um cachorro quente aberto por todo Kobrasol.(num podia contar essa?)


Depois disso tudo... dormi feliz e em paz.


Vem na roda!!



--
Petry, Marcos R.
São José, SC, Brasil
"Seja realista: Peça o impossível"

Anônimo disse...

Pessoal, uma coisa que não vi e estou curioso pra ver são as fotos que batemos no primeiro pedal que demos como "Laranjas do Continente". Aquela que batemos na Matriz e na passarela na Gustavo Richard tb...
Abraços!

Prof. Charles disse...

Maravilha, galera! Pedal inesquecível e emocionante, marcado por superação, alegria e velocidade! Focou o gostinho de quero muito, mas muito mais!