terça-feira, 11 de maio de 2010

Balada das meninas de bicicleta



Meninas de bicicleta

Que fagueiras pedalais

Quero ser vosso poeta!

Ó transitórias estátuas

Esfuziantes de azul

Louras com peles mulatas

Princesas da zona sul:

As vossas jovens figuras

Retesadas nos selins

Me prendem, com serem puras

Em redondilhas afins.

Que lindas são vossas quilhas

Quando as praias abordais!

E as nervosas panturrilhas

Na rotação dos pedais:

Que douradas maravilhas!

Bicicletai, meninada

Aos ventos do Arpoador

Solta a flâmula agitada

Das cabeleiras em flor

Uma correndo à gandaia

Outra com jeito de séria

Mostrando as pernas sem saia

Feitas da mesma matéria.

Permanecei! vós que sois

O que o mundo não tem mais

Juventude de maiôs

Sobre máquinas da paz

Enxames de namoradas

Ao sol de Copacabana

Centauresas transpiradas

Que o leque do mar abana!

A vós o canto que inflama

Os meus trint'anos, meninas

Velozes massas em chama

Explodindo em vitaminas.

Bem haja a vossa saúde

À humanidade inquieta

Vós cuja ardente virtude

Preservais muito amiúde

Com um selim de bicicleta

Vós que levais tantas raças

Nos corpos firmes e crus:

Meninas, soltai as alças

Bicicletai seios nus!

No vosso rastro persiste

O mesmo eterno poeta

Um poeta – essa coisa triste

Escravizada à beleza

Que em vosso rastro persiste,

Levando a sua tristeza

No quadro da bicicleta.


(Vinícius de Moraes)

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