quinta-feira, 8 de abril de 2010

Pedal da transformação


Ontem à noite fui convidado a escalar o Morro da Rússia. O convite para tal aventura veio do Pedal Continente, grupo que surpreende a cada dia, seja pela evolução rápida que promove em seus integrantes, seja pelos trajetos ousados que impõe como desafio. Abrilhantando o grupo estava a elite feminina: Aninha, o mais recente talento feminino a se juntar ao grupo, cuja agilidade e força se harmonizam com o lindo sorriso com que ela cumprimenta a todos; Karol, especialista em montanha-russa, tanto na subida quanto na descida; Teresa, garra e graça sob as estrelas! E Sinara, uma alegria veloz na noite escura!

Saímos da Ciclo Vil com dezoito “alpinistas” entusiasmados. Após checarmos todas as cordas e ganchos para a escalada partimos para aquele “país” gélido, ávidos por diversão na Rússia de Biguaçu. O amigo Cristian nos encontrou na Serraria e se juntou ao grupo. Também quis pedalar conosco um “ciclista desconhecido”, mas que se irmana a todos nós pelo gosto da aventura noturna. Depois de duas breves paradas tocamos até uma mercearia onde o João comprou um “cacho” de bananas. Aí aconteceu a primeira transformação: de alpinistas para “macacos” em um segundo! Os “macacos” avançaram de tal forma nas bananas que não sei se sobrou alguma coisa pro generoso João.

Animados pelo potássio da banana alheia, os símios do continente começaram a escalada naquela montanha de cascalho, pedra e pó. O Morro da Rússia tem o poder de distinguir os primatas. Mal começou a subida e os faróis das bicicletas iluminavam gorilas, saguis, chimpanzés, orangotangos... tinha até mico-leão-dourado! Como fui o primeiro a pregar, descobri que sou um macaco-prego!!! Para se ter uma ideia exata do grau de dificuldade que a macacada teve que enfrentar, basta imaginar uma geleira íngreme coberta de bolinhas de gude. Foi assim que eu e meu amigo Ricardo nos sentimos morro acima, derrapando a cada passo para todos os lados enquanto empurrávamos nossas bicicletas. Rodrigo e João vieram nos socorrer e subiram a parte final do “pesadelo russo” nos dando aquele apoio moral.

No “dia” em que chegamos ao cume da montanha descobrimos que a segunda transformação já havia ocorrido: os macacos se transformaram em ciclistas e despencaram morro abaixo. Mas ninguém despencou tão bem quanto o Willian, que perdeu o controle na descida e na primeira curva se viu de pernas pro ar numa cama macia de “pega-pega” verdejante. Agora sabemos todos que, dos homens do grupo, o Willian é o único que está pegando... literalmente!

Depois da descida fizemos uma breve parada para as “bailarinas” escolherem a música, os passos e o ritmo. O espetáculo iria começar! Rodrigo Cansian puxou o grupo. Atrás dele pedalavam “mestre Kuka”, Willian, Gustavo, Alexandre e eu. O asfalto tem gosto de velocidade e estávamos pedalando entre 30 e 35 km/h com picos de 50 Km/h nas descidas. Encostei ao lado do Rodrigo que puxava o grupo havia algum tempo. Os “speeds” estavam protegidos na “cozinha”, aguardando o bote. Então veio uma subida e acho que meu suspensório invisível se prendeu em algum galho na beira da estrada, pois senti uma força elástica me puxando para trás. Todos se foram e eu fiquei. Contrariado, busquei a diferença na descida e encostei outra vez no Rodrigo e no Gil. Mas o velocista “Mestre Kuka” havia sumido e levado consigo Gustavo e o homem-velcro Willian-pega-pega.

Quando eu, o Rodrigo e o Gil chegamos ao posto de Forquilhinhas, os “homens-bala” já nos esperavam há mais de um minuto, o que representa muito tempo, posto que estávamos andando na balada deles. Cumprimentei os três atletas pelo ritmo forte que imprimiram. Esse “tiro” no final do pedal tem muitos pontos positivos, dos quais se destacam o aprimoramento da parte física e técnica, a produção de adrenalina e a melhora significativa da memória! Sim, enquanto eu sofria para acompanhar os velocistas e passistas, lembrava-me de manter a UNIMED em dia!!! Aliás, daqui pra frente tomarei por hábito pedalar com dois números tatuados no quadro da minha bicicleta, um do meu cardiologista e outro da mais recente funerária do Kobrasol, cujo nome provoca arrepio: “Bem que eu te avisei dessa roubada!”

Alguns minutos depois todos estavam reunidos outra vez. Uma chuva fina começou a cair e tocamos para casa. Em frente a Ciclo Vil, Rinaldo, Teresa, Karol, Aninha, Simara e João falavam em pizza, mas não sei se rolou, pois fui embora. Estava na hora da terceira transformação: vestir a fantasia de pijama de bolinha e desfilar de mestre-sala na avenida de meus sonhos glaciais.

Um abraço às russas e russos de ontem.

Prof. Charles.

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